domingo, 8 de abril de 2012

" UMBIGOCENTRISMO "


Sempre quis enxergar além, por sobre as cabeças da multidão que divide os espaços comigo.
E olhando além, por vezes bradei contra os demagogos políticos, contra vizinhos mau educados, atribuindo-lhes os problemas hodiernos.
Mas um dia, como se eu recebesse um chacoalhão espiritual, parei, refleti e cheguei a simples conclusão de que vivo num novo tempo, com uma nova visão de mundo, vivo num umbigocentrismo agudo.
Percebi então que estava errado, pois tudo o que não girasse em torno de mim não importava; fechei-me numa autosupervalorização, e os problemas estavam aí, em mim, e não nos outros.
Eu não respeitava os idosos, a faixa de pedestre, os cegos, os deficientes, eu não ligava pras leis, ignorava doutrinas, cuspia nas fardas.
Eu destruía o patrimônio alheio, afinal, não era meu, e o que não era meu não importava.
Eu discriminava, pois sentia-me superior, tanto em raça, classe e cor. Eu jogava lixo no chão, pela janela do carro, nos córregos, porque não era eu e nem ninguém da minha família ou do meu círculo de convivência que teria que limpar.
Eu, por vezes – perdoe-me meu Deus –, já tive vontade de matar alguém, pois não reconhecia o outro como sujeito, como igual a mim, não tinha a capacidade de reconhecê-lo como filho de alguém que o esperava, como pai que deixaria filhos órfãos.
Meu umbigo é o que importava, as minhas vontades e as dos meus; o ao redor não era eu, e devida a minha personalidade narcisa, eu ignorava.
Ignorava o alheio, e com isso, não o enxergava como igual, o que levava-me a uma frieza ímpar, a ponto de destruir o ser ao lado sem perceber que esse ser participa da mesma existência que eu.
Ainda bem que eu acordei...





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