"O PASSARINHO QUE NÃO SABIA CANTAR"
Mateus não estava indo bem na escola, e se continuasse com os maus resultados provavelmente repetiria a quarta série. Ele não fazia por mau, ele era um menino com um bom coração, respeitava os pais, os avós e qualquer outro adulto, apenas não entendia bem a Matemática.
Na intenção de ajudar o filho e não vê-lo reprovado, o pai de Mateus prometeu-lhe dar um passarinho, caso conseguisse passar de ano.
O menino ficou muito feliz e ansioso com a proposta, pois adorava os animais, mas para ganhá-lo não podia reprovar. Então, o pequeno Mateus dobrou a dedicação aos estudos e intensificou as lições, fez cálculos e mais cálculos e conseguiu tirar a nota mínima para ser aprovado à quinta série.
Mateus não aguentou-se de alegria quando soube do resultado que o aprovou, ditado pela professora. Ele pulou, gritou, festejou e saiu em disparada para casa, todo feliz e com o boletim na mão. Louco para mostrar ao pai a sua conquista.
O pai – ao ver que o filho conseguira – ficou feliz e muito orgulhoso, e tratou logo de cumprir o prometido. Pediu ao filho para que esperasse em casa e dirigiu-se a uma avicultura, escolheu o mais belo canário que o vendedor tinha na loja e pediu também uma bonita gaiola para colocar o passarinho, pagou ao vendedor e levou o presente ao filho.
Mateus ficou extremamente emocionado com seu passarinho, tanto que naquela noite ele colocou a gaiola ao lado de sua cama quando foi dormir, sendo que ora ou outra – quando despertava do sono leve – o pequeno Mateus colocava o dedinho entre os ferrinhos da gaiola para brincar com o canarinho. Mas o pássaro, assustado, afastava do dedinho do garoto.
Ao amanhecer, o pai do menino o chamou para juntos irem a uma praça próxima, onde donos de passarinhos penduravam suas gaiolas em árvores, e assim, ver qual pássaro mais cantava. Quando Mateus chegou com o pai, os diversos pássaros que no local já estavam encantavam os ouvidos dos transeuntes. Os olhinhos do menino brilharam, e ele, encantado, não sabia para onde olhar.
– Pendura o Fred, pai! Pendura ele ali ó – Mateus, ansioso, falava para o pai pendurar o Fred – nome que ele deu ao passarinho – enquanto apontava para uma árvore.
O pai de Mateus achou graça na impaciência do filho e atendeu o pedido do menino, pendurou a gaiola com o lindo Fred. Depois afastou-se e procurou um lugar na sombra para sentar com o filho, para juntos aguardarem o lindo canto do canarinho amarelo. Mas nada, o passarinho não cantou durante todo o tempo em que ficaram na praça.
Mateus ficou frustrado e chorou, envergonhado por seu passarinho ser o único a não cantar naquele dia.
Os velhos frequentadores e antigos criadores de passarinhos – que no local estavam – se compadeceram e vieram ao menino para tentar acalmá-lo. Muitos disseram ao pequeno Mateus que o passarinho dele demoraria um pouco para cantar, e que era assim mesmo, mas logo o canarinho cantaria belamente.
Mateus acalmou-se um pouco ao ouvir os senhores donos de passarinhos cantadores, mas continuou frustrado, e por dentro ele estava determinado a fazer o seu passarinho cantar.
Foi embora com o pai e decidiu ele mesmo carregar a gaiola, e no caminho aproveitou para dar umas broncas no passarinho.
– Por que você não cantou canarinho? – ele questionava o belo pássaro, ao enfiar o dedo pelos ferrinhos da gaiola e tentar acariciar o bichinho.
Assustado, o passarinho afastava-se...
Chegando em casa, Mateus levou a gaiola para o quarto, colocou-a perto de sua cama e deitou-se ao lado dela. Ficou horas e horas sobre o tapete repleto de ácaros que existia em seu quarto, assobiando e olhando para a gaiola, na esperança de que o seu lindo canarinho o copiasse e cantasse belamente. Mas nada, o passarinho não cantava.
Tentativas e tentativas repetiram-se durante vários dias das férias do menino, Mateus assobiava e assobiava, mas nada, o passarinho não cantava.
Até que o pai, ao ver o filho completamente decepcionado, decidiu conversar com os antigos criadores, e depois de ouvir várias dicas, decidiu seguir uma. Comprou um disco de cantos de pássaros e colocou para tocar na sua antiga vitrola. Horas e horas ao lado da gaiola a caixa de som emitia belos cantos de curiós, canários, pintassilgos e outros pássaros. Mas nada, o belo canarinho Fred não cantava.
Foram tantas vezes que os cantos repetiram-se, que Mateus ficou com dó do seu passarinho, e decidiu desligar o som. Pegou a gaiola e resolveu levá-la novamente para seu quarto. Colocou-a no chão e novamente deitou-se ao lado, mas desta vez não assobiou, apenas enfiou o dedinho por entre os ferrinhos e tentou acariciar o passarinho, com sucesso desta vez, pois o passarinho não afastou, já estava acostumado com o menino. Mateus ficou muito emocionado por conseguir tocar no seu bichinho, e repetiu várias vezes o acariciar.
E o passarinho passou a confiar no menino, pois sempre que Mateus aproximava-se, o canarinho também chegava mais perto aos ferrinhos da gaiola. Mas o passarinho não cantava.
Os meses passaram-se e novamente vieram as próximas férias, mas Mateus não queria brincar com os amiguinhos, queria era aproveitar ao máximo o tempo que tinha para ficar ao lado do seu belo passarinho amarelo, e foi o que ele fez.
Aonde ele ia, não ia sem o passarinho. Ia-se ao banheiro, levava o passarinho, se ia à sala, levava o passarinho, à cozinha, levava o passarinho, ia-se à calçada, levava o passarinho. E o passarinho parecia gostar do seu amiguinho também, tanto é, que sempre que Mateus carregava a gaiola, Fred tentava alcançar o seu dedo... Mas nada de cantar...
Até o dia em que Mateus ouviu num programa de televisão que os animaizinhos deveriam viver soltos na Natureza, que eles tinham o direito – assim como a gente – de serem livres. Naquele momento o pequeno Mateus olhou para seu amiguinho e ficou com pena de deixá-lo trancado naquela gaiola...
“Se você abrir a portinha ele foge” – as palavras do pai dele, que foram ditas ao entregar o presente, martelavam na sua cabeça.
Mas Mateus estava determinado a soltar o seu amiguinho, não queria mais vê-lo trancado, e mesmo sabendo que ele poderia fugir, abriu a portinha e estendeu a mão para que seu amiguinho subisse. O canarinho aceitou a palma da mão do pequeno Mateus e subiu. Em seguida o garoto retirou a mão – trazendo o lindo canarinho – e fechou a portinha da gaiola. E por incrível que pareça o passarinho não quis fugir, não voou para longe como seria normal acontecer, ele subiu no ombro do seu pequeno dono e bicou-lhe levemente na orelha, em seguida encheu o peito e cantou belamente por intermináveis segundos.
Mateus emocionou-se com o cantar do seu passarinho, e lágrimas correram em seus olhos, pois percebeu que o seu canarinho jamais cantara porque estava triste por permanecer preso.
Após esse dia, nunca mais o menino prendeu o seu belo canarinho, e em seu ombro o passarinho cantava, sendo que juntos mostravam que é possível haver amor e respeito entre o homem e os animais.
E assim começou uma linda amizade entre Mateus e o passarinho que não sabia cantar...
FIM.
Elder Prates.
Que texto comovente Elder, lindo gesto do Mateus. Parabéns pelo conto envolvente do início ao fim! Bjss!
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